Levantamento compara dados divulgados pelo governo nos últimos 3 anos com números atualizados das cidades-sedes: soma chega a R$ 7,1 bilhões
Fora do projeto inicial, Arena Corinthians ocupa
lugar que seria do Morumbi (Foto: Alexandre Lozetti)
Em janeiro de 2010, o governo federal e representantes das 12 sedes da
Copa do Mundo de 2014 deram o primeiro passo efetivo no planejamento
para a realização do torneio com a assinatura da Matriz de
Responsabilidades - um documento com a previsão de projetos
prioritários, entre eles, a construção ou reforma dos estádios. Cada
cidade apresentou seu plano, com estimativas de custos e prazos para
conclusão das obras. Entre janeiro de 2011 e dezembro de 2012, o governo
publicou ainda quatro balanços com atualizações. Pouco mais de três
anos depois dos primeiros números, o GLOBOESPORTE.COM fez um
levantamento comparativo para checar quais arenas tiveram os planos e
prazos cumpridos (confira a tabela com todos os dados no final do texto).lugar que seria do Morumbi (Foto: Alexandre Lozetti)
Na Matriz de Responsabilidades da Copa em 2010, a previsão era de que os 12 estádios construídos ou reformados para 2014 custariam, ao todo, aproximadamente R$ 5,4 bilhões. Essa estimativa se mostrou incorreta: os custos estão 30% mais caros - chegando a R$ 7,1 bilhões, segundo estimativas de abril, passadas pelas próprias cidades-sedes. O secretário-executivo do Ministério dos Esportes (e representante do governo federal no Comitê Organizador da Copa - COL), Luis Fernandes, não considerou a diferença preocupante.
- Sinceramente, não acho que seja um aumento muito significativo. Quando a primeira versão da Matriz foi elaborada, nem todos os projetos estavam completos. Foi lançada uma estimativa dos custos antes da consolidação dos projetos. Um exemplo é o caso de São Paulo, onde estava prevista em 2010 a reforma do Morumbi e depois o projeto mudou para a construção de um novo estádio. Evidentemente, o custo subiu. A Copa do Mundo é uma oportunidade para grandes investimentos na infraestrutura do país, inclusive em equipamentos esportivos, como é o caso dos estádios, que ficarão como um importante legado - disse.
- Com relação aos prazos, entram fatores de outra natureza - acrescentou Luis Fernandes - É preciso entender a complexidade das obras. Houve problemas na gestão dessas complexidades que acabaram determinando os atrasos. Seria muito importante que todos tivessem sido entregues no prazo. Agora temos que pensar que é importante que os outros seis estádios da Copa sejam finalizados até dezembro.
A principal preocupação está com os três estádios da Copa das Confederações que só deverão ser finalizados até o final deste mês: Arena Pernambuco, no Recife, Mané Garrincha, em Brasília, e Maracanã, no Rio de Janeiro. Apesar dos atrasos, o secretário garantiu que não haverá problemas para a realização do evento, que começa no dia 15 de junho com Brasil x Japão na capital federal.
- Os atrasos tornam o desafio maior. Mas não preocupa tanto, porque todos terão os eventos-teste. O problema é que será preciso realizar várias ações concomitantes. Não é o ideal, mas também não prejudicará a Copa das Confederações.
Arena Fonte Nova é o último estádio de 2014 inaugurado para Copa das Confederações
Demora na definição dos projetos
Na opinião do engenheiro José Roberto Bernasconi, membro do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia, alterações em custos e prazos de obras complexas como a construção de estádios é comum e só será possível avaliar se houve exageros após uma análise detalhada de cada projeto.
- Toda obra está sujeita a algumas intercorrências, como questões climáticas, greves, aumento nos custos de mão de obra, aumento nos preços unitários de alguns itens... São muitos fatores e, enquanto não forem divulgados os mínimos detalhes de cada projeto, é difícil dizer se os aumentos estão ou não dentro do limite do aceitável.
No entanto, para o especialista, pelo menos um problema é fácil de identificar nos preparativos do Brasil para o Mundial de 2014: a demora para a definição dos projetos.
- O Brasil foi anunciado como sede da Copa no dia 30 de outubro de 2007. Em 2008 só se fez discurso, assim como em 2009. Deixamos o tempo passar. Em 2010 alguns projetos estavam em andamento e uma ou outra obra começou. Só aceleramos mesmo em 2011 e 2012. E uma das principais causa de problemas e perda de controle de custos é trabalhar com prazos apertados - afirmou o especialista, que lembrou que o anúncio das cidades-sedes só foi feito pela Fifa em maio de 2009, mas que algumas sempre foram consideradas certas no Mundial, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.
Números diferentes
Arena da Baixada: números do Atlético-PR não
batem com os do governo
Chama a atenção o fato de que, em alguns casos, os valores estimados
pelas cidades-sedes para as obras dos estádios não são os mesmos
divulgados pelo Ministério do Esporte no último Balanço da Copa, em
dezembro de 2012. Há variações para mais e para menos e diferentes
explicações.batem com os do governo
Um exemplo está nas estimativas da Arena da Baixada. De acordo com os dados do ministério, a reforma do estádio custará R$ 234 milhões. No entanto, o Atlético-PR informou que a estimativa é de que, com os descontos fiscais concedidos pelo Recopa (programa de isenção fiscal para as obras dos estádios do Mundial), sejam gastos somente R$ 184 milhões (mesma previsão de janeiro de 2010).
Já no caso da Fonte Nova, os números do Ministério do Esporte indicam um custo de R$ 591,7 milhões. No entanto, o governo baiano informou que mudanças exigidas pela Fifa após a assinatura do contrato acabaram gerando um custo adicional de R$ 97,7 milhões, oficializado em janeiro deste ano. Entre as modificações estão mudanças no padrão dos assentos e do gramado, além de inovações na área de Tecnologia de Informação e instalações elétricas. Sendo assim, o valor final da obra foi estimado em R$ 689,4 milhões.
Os mais caros: Mané Garrincha e Maracanã
Não por acaso, os dois maiores estádios da Copa também serão os mais caros: Maracanã (79 mil pessoas) e Mané Garrincha (72 mil pessoas). As duas obras também estão entre as que mais aumentaram os custos entre 2010 e 2013.
Estimada inicialmente em R$ 600 milhões, a reforma do Maracanã já teve um crescimento nos gastos de 43%, passando para R$ 859,9 milhões, segundo os responsáveis pela obra. É o terceiro estádio com maior aumento proporcional e o segundo em valores brutos - crescimento de R$ 259,9 milhões. Gastos que poderão ser ainda maiores. O último balanço divulgado pelo Ministério do Esporte, em dezembro de 2012, já estimava o custo em R$ 882,9 milhões, número ainda não oficializado pelo governo local.
ESTÁDIOS NOVOS |
PREVISÃO DE CUSTO (R$) |
CAPACIDADE* |
CUSTO/ CAPACIDADE (R$) |
---|---|---|---|
Mané Garrincha (DF) | 1 bilhão | 72 mil | 13,8 mil |
Arena Amazônia (AM) | 583,4 milhões | 44 mil | 13,2 mil |
Fonte Nova (BA) | 689,4 milhões | 55 mil | 12,5 mil |
Arena Corinthians (SP) | 820 milhões | 67 mil | 12,2 mil |
Arena Pantanal (MT) | 518,9 milhões | 44 mil | 11,7 mil |
Arena Pernambuco (PE) | 532 milhões | 46 mil | 11,5 mil |
Arena das Dunas (RN) | 400 milhões | 42 mil | 9,5 mil |
ESTÁDIOS REFORMADOS | |||
Mineirão (MG) | 695 milhões | 62 mil | 11,2 mil |
Maracanã (RJ) | 859,9 milhões | 79 mil | 10,8 mil |
Castelão (CE) | 518,6 milhões | 64 mil | 8,1 mil |
Beira-Rio (RS) | 330 milhões | 50 mil | 6,6 mil |
Arena da Baixada (PR) | 184,6 milhões | 43 mil | 4,2 mil |
*foi usada como referência a capacidade dos estádios informada no último Balanço da Copa divulgado pelo governo federal |
- No caso do Maracanã, o conceito inicial era de manter a cobertura original, fazendo apenas adaptações. Só depois foi feita a avaliação técnica de que isso poderia não dar a garantia de sustentação necessária, e foi preciso mudar o projeto, exigindo a demolição da marquise. Quando os custos foram estimados em 2010, esse gasto não estava previsto - justificou o secretário do Ministério do Esporte Luis Fernandes.
Sobre o Mané Garrincha, o crescimento nos custos entre 2010 e 2013 foi de 34%, passando de R$ 745,3 milhões para R$ 1 bilhão (aumento de R$ 254,7 milhões). Gasto que, segundo o Tribunal de Contas do Distrito Federal, deverá ser maior: o último balanço divulgado pelo órgão estima as obras do Mané Garrincha em R$ 1,2 bilhão.
- Quando foi apresentado, havia apenas o custo do projeto básico. Hoje, atingiu esse nível porque o projeto inicial não constava a cobertura, por exemplo, e toda a tecnologia que foi incluída depois. Além disso, no projeto original seria aproveitado um quarto de arquibancada, o que não foi possível. Não é reforma. Estamos fazendo um estádio completamente novo, que custará cerca de R$ 1 bilhão com a isenção fiscal do Recopa - explicou o secretário extraordinário da Copa no Distrito Federal, Cláudio Monteiro.
Mané Garrincha deverá ser o estádio mais caro para a Copa do Mundo no Brasil
- Podíamos estar fazendo esse estádio para entregar em dezembro, para a Copa do Mundo, com tranquilidade. Mas houve uma decisão de antecipar o cronograma em oito meses e inserir a cidade na Copa das Confederações. Mais ainda, a cidade receberá a abertura da competição, sendo assistida por milhões e milhões de telespectadores do mundo todo, um ano antes. Foi uma decisão acertada - defendeu Cláudio Monteiro.
Beira-Rio: aumento de 153%
Apesar de ser a segunda obra mais barata, a reforma do Beira-Rio é foi a que apresentou o maior aumento proporcional nos gastos. O crescimento entre o valor previsto em 2010 e o custo atual da obra foi de 153%, passando de R$ 130 milhões para R$ 330 milhões (aumento de R$ 200 milhões.
Segundo os responsáveis pela obra, o aumento foi provocado por uma troca no modelo de construção. Inicialmente, o Internacional ficaria responsável pela reforma. No entanto, em 2011, foi firmado uma parceria com um consórcio que alterou substancialmente o projeto e incluiu novos itens, como um edifício-garagem para três mil veículos.
- Chegamos a conclusão de que seria necessário firmar uma parceria para fazer a obra. Acertamos com uma um consórcio, que assumiu parte dos custos, e os valores se modificaram. Naturalmente, houve alterações no projeto - explicou o presidente da Comissão de obras do Internacional, Maximiliano Carlomagno.
O caso de São Paulo: Morumbi x Arena Corinthians
A cidade de São Paulo foi a única em que houve uma troca no estádio previsto para a Copa. Inicialmente, o palco do Mundial na capital paulista seria o Morumbi, com reforma estimada em R$ 210 milhões. No entanto, em 2011 foi definido que um novo estádio seria construído - a Arena Corinthians - para receber a abertura da Copa.
A primeira estimativa de custo do novo estádio divulgada pelo governo federal apareceu no 2º Balanço da Copa, em setembro de 2011. A previsão de R$ 820 milhões não mudou desde então.
Redução de custos: Castelão
Pronto em dezembro, Castelão foi sede de clássico
entre Ceará e Fortaleza
Entre os 12 estádios da Copa, apenas um apresentou redução nos custos
previstos entre 2010 e 2013 até o momento: o Castelão, em Fortaleza. A
economia de R$ 104 milhões em comparação com a estimativa inicial foi
confirmada pelo governo local ao fim da obra. Previsto para custar R$
623 milhões em 2010, a reforma do estádio foi concluída a um custo de R$
518,6 milhões - redução de 16,7%.entre Ceará e Fortaleza
- O Governo do Estado optou pelo modelo de parceria público-privada (PPP) para a contratação do consórcio construtor que ficou responsável pela obra. Durante o processo de licitação, venceu a proposta que se adequava ao projeto e tinha o valor mais baixo. Daí conseguimos a redução dos custos - explicou o secretário especial da Copa 2014 no Ceará, Ferruccio Feitosa.
Outros estádios também utilizaram o modelo de PPP, mas não conseguiram redução nos valores, como é o caso da Arena Pernambuco. Estimada inicialmente para custar R$ 529,5 milhões, a obra já está orçada em R$ 532 milhões, segundo o governo local, e poderá aumentar ainda mais por conta de medidas que foram tomadas para acelerar a construção e permitir a entrega a tempo da Copa das Confederações. O valor final ainda não foi calculado.
No prazo: Castelão e Mineirão
Além de ser o único projeto com redução nos custos, o Castelão também foi, ao lado do Mineirão, um dos estádios entregues dentro do prazo previsto - dezembro de 2012.
- Uma decisão que foi essencial para a agilidade do processo foi levar toda a equipe da então Secretaria do Esporte (assim que o contrato foi assinado com o Consórcio Construtor e antes mesmo de ser criada a Secopa) para dentro do canteiro da obra, para que pudéssemos acompanhar mais de perto a execução - detalhou o secretário da Copa no Ceará, Ferruccio Feitosa.
Já a Secretaria Extraordinária da Copa em Minas Gerais (Secopa-MG) informou por meio da assessoria de imprensa que um dos fatores que possibilitou o cumprimento do prazo foi a adoção de um modelo de gestão compartilhada entre o governo local e um parceiro privado (Minas Arena), que ficou responsável pela administração do estádio após a conclusão.
Comparações
Para Luis Fernandes, aumento dos custos dos
12 estádios não é significativo (Foto: Ivo Lima)
Na opinião do secretário executivo do Ministério do Esporte, Luis
Fernandes, não é justo comparar os custos e os prazos de entrega dos 12
estádios da Copa. Para ele, são projetos bastante específicos, com
características próprias que precisam ser consideradas em qualquer
avaliação.12 estádios não é significativo (Foto: Ivo Lima)
- São projetos diferentes. Cada um com uma complexidade diferente. Alguns tratam apenas de reformas, como é o caso do Castelão e do Mineirão. Não dá para comparar o grau de complexidade do Castelão com o Maracanã, por exemplo.
Segundo o secretário, as evoluções nos custos e alterações no prazos de entrega decorrem justamente dessas especificidades, que precisam ser consideradas individualmente.
- É complicado comparar diretamente o porque um conseguiu diminuir o valor e outro não. Os primeiros valores previstos na Matriz estavam baseados em projetos que foram bastante alterados, consolidados ao longo do tempo, e de acordo com as necessidades de cada sede.
O engenheiro José Roberto Bernasconi também avalia que é preciso considerar as especificidades de cada obra. No entanto, para o especialista, separando reformas de construções novas e utilizando o tamanho dos estádios como parâmetro é possível fazer algumas comparações.
- Cada caso é um caso. São situações de trabalho diferentes. Mas comparando o preço unitário por assento, é possível perceber algumas diferenças importantes e traçar alguns parâmetros para avaliação - defendeu o especialista.
Neste caso, entre os novos estádios construídos para Copa, o Mané Garrincha é o que apresenta o custo mais alto na divisão entre o valor estimado para a obra e a capacidade: R$ 13,8 mil por assento. Já entre os estádios reformados, o custo mais alto é do Mineirão, com R$ 11,2 mil por assento.
Custos estádios da Copa do Mundo 2014
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